Greenpeace protesta em frente à embaixada do Japão em favor de Junichi Sato e Toru Suzuki, ativistas que sofrem julgamento abusivo por denunciarem esquema de contrabando e venda ilegal de carne de baleia. Se condenados, os dois, conhecidos internacionalmente como ‘Tokyo Two’, podem pegar até dez anos de cadeia. As duas últimas sessões do processo foram marcadas por mentiras e incongruências nos depoimentos.
Kumi Naidoo, atual diretor executivo do Greenpeace, esteve presente no protesto, que levou para frente da casa oficial uma baleia acorrentada. Ele entregou uma carta à equipe da embaixada com pedido de justiça. Em maio de 2008, os dois ativistas japoneses investigaram esquema de corrupção e contrabando envolvendo o programa baleeiro japonês. Em desrespeito à Moratória da Caça Comercial de Baleias, estipulada internacionalmente em 1982, o Japão segue caçando sob o argumento de pesquisa científica e pratica o comércio ilegal da carne.
Além de usar dinheiro público para financiar a matança no Santuário de Baleias do Oceano Antártico, o programa envolvia uma rede ilegal de venda de sua carne. Como prova, Junichi e Toru interceptaram uma caixa do produto de um navio baleeiro e entregaram ao Ministério Público japonês. A denúncia foi distorcida e rendeu-lhes um processo por roubo e invasão de propriedade.
No mesmo dia em que foram presos – tendo permanecido 23 dias na cadeia sem direito a julgamento – o Ministério Público arquivou a investigação de contrabando feita pelo Greenpeace. Desde então, o Japão é palco de um processo recheado de contradições e criticado por organizações como a Anistia Internacional e o Centro de Direitos Humanos da ONU.
O julgamento, que teve início dia 15 de fevereiro, vem sendo marcado por depoimentos desencontrados. A empresa dona da frota de navios, Kyodo Senpaku, de onde a carga foi interceptada, chegou a afirmar que a carne de baleia não era distribuída pelos funcionários do navio. Em uma segunda versão, disse que apenas as partes ‘menos nobres’ eram presenteadas. Na sessão de ontem, testemunha assumiu que a tripulação recebia carne de baleias bebês, mais macias e com alto valor de venda no mercado.
Hoje, no terceiro dia de julgamento, novas mentiras no ventilador. Funcionário aposentado do navio que colaborou com Junichi e Toru na investigação contou ao júri saber que carne de baleia era entregue como ‘souvenir’ a parlamentares japoneses e oficiais da Agência de Pesca do Governo. E o que é pior: os próprios membros da Comissão Internacional da Baleia (CIB) levavam para casa grandes quantidades de valiosos cortes da cauda do animal, alegando fins científicos.
A testemunha, que prestou depoimento sem identificar nome e rosto temendo represálias, afirmou também ter sido coagido pela polícia de Tóquio a negar ter presenciado, ou participado, de contrabando dentro do navio.
“Logo no primeiro dia, ficou claro que o julgamento é uma tentativa de manter a mentira em torno da caça ilegal de baleia praticada pela indústria pesqueira japonesa”, diz Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace. As próximas sessões acontecem em maio e o veredicto está previsto para junho.
Desde a prisão de Junichi e Toru, em junho de 2008, mais de 250 mil pessoas no mundo já assinaram uma petição online cobrando justiça para os ‘Tokyo Two’.
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