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5 de junho de 2012

Guerreiros do arco-íris


Foi muito boa a experiência no novo RW do Green. Logo na chegada avistamos ele ancorado próximo ao cargueiro de ferro-gusa que estava sendo bloqueado, o Clipper Hope, e todos ficaram maravilhados. Nosso navio é novíssimo, bonito por dentro e por fora, bem equipado e com uma tripulação super competente. Fomos muito bem recebidos por todos, lá encontramos amigos voluntas guerreiros de outros estados, a coordenação estava a cargo do escritório de Manaus, e tripulação formada por guerreiros de diversos países do mundo. O dia-a-dia era muito agradável, tínhamos horários para café da manhã, almoço e janta bem estipulados. O banho poderia ser somente um por dia e de no máximo 3min. Todo o lixo é separado, e o que pode é reciclado. Há um quadro onde você voluntariamente coloca o seu nome em alguma atividade para ajudar na arrumação e limpeza do navio todas as manhãs. Muito legal isso, pois demonstrou um espírito de cooperativismo de todos, até mais amigável do que muitas famílias! Todos queriam ajudar e se integrar às atividades do navio. Fiquei embarcado 5 dias. Na quarta-feira quando nós chegamos (nós éramos mais 6 voluntários que embarcamos em São Luís/MA juntos por último) ainda persistia o bloqueio na âncora do navio Clipper Hope que iria receber um carregamento de mais de 30 ton de ferro-gusa, ferro este que é proveniente de exploração de trabalho escravo e que em sua cadeia de produção utiliza madeira de desmatamento ilegal da amazônia, dentre outras conseqüências ruins que esta exploração traz para o meio ambiente. Eu participei da última noite de bloqueio na âncora, ficando 8h pendurado no tablado amarrado à corrente da âncora do cargueiro de ferro, impedindo-o de se movimentar até o porto de Itaqui para receber a carga. Nós ativistas revesávamos na corrente ficando cada um 4h e trocando. Meu período foi de 21h30min de quarta até 5h30min de quinta, dois períodos seguidos para não precisar trocar o plantão de madrugada e para os companheiros ativistas que já estavam a 9 dias no bloqueio poderem descansar mais. Foi uma noite/madrugada de reflexão lá em cima, a algumas horas atrás eu estava no conforto de minha cidade e casa na rotina da vida, e naquele momento eu estava clipado em cordas sentado num tablado amarrado a uma corrente de âncora de um navio cargueiro no mar do Maranhão! Foi uma experiência ímpar para mim, me senti orgulhoso quando deu a minha hora de descer e retornei ao Rainbow Warrior. Ventou muito de madrugada, muito mesmo. O cargueiro se movimentava e balançava o tablado, fazia estalos altos. Mas o dia foi chegando, e mais ainda fui entendendo a importância e significado que aquilo tinha. O nascer do sol, o amigo chegando para trocar o plantão, o apoio dos botes, o retorno ao nosso navio, tudo isso parece que me motivou às 5h30min da manhã e já não lembrava do cansaço e do sono. Tinha dentro de mim o quão importante era aquilo pelo que estávamos lutando, e que valia muito a pena. Na quinta-feira o bloqueio foi retirado tendo em vista um acordo de reunião numa comissão da câmara na sexta-feira pela manhã. Queríamos deixar os envolvidos à vontade sem mostrar muita pressão sobre eles, portanto deixamos o navio Clipper Hope. Como podíamos imaginar, a reunião aqui em Brasília não teve muito sucesso para o país e para quem sofria com a situação. Além disso, a presidente Dilma não deu uma resposta satisfatória em relação ao veto do código ruralista que o congresso encaminhou a ela, total decepção. Aí então era hora de agir diretamente e colocar o time de ativistas do Greenpeace em ação. Tudo foi planejado. No sábado pela manhã, mais um dia raiava e a natureza nos incentivava mais ainda, o sol nascendo, o mar, três equipes em três botes, nosso navio guerreiro... Como planejado, em questão de minutos nós estávamos ocupando o porto de Itaqui. Subimos por onde os navio atracam, tomamos a pilha de ferro-gusa esticando um grande banner com a frase: "Amazônia vira carvão. Brasil: desliga essa motosserra". Logo também dois de nossos escaladores bloquearam e se acorrentaram ao guindaste do porto que ajudaria no carregamento. O Clipper Hope já estava atracado no porto! Quando tiramos o bloqueio na quinta ele se dirigiu ao porto para prosseguir com o crime. Mas o grande Rainbow Warrior chegou e encostou lado a lado com o gigante cargueiro, bloqueando-o novamente! Mais escaladores nossos invadiram o navio criminoso e também paralisaram seus guindastes e esticaram banners. A situação estava tomada. Era mais uma ação direta não-violenta do Greenpeace que estava acontecendo para denunciar, chamar atenção e cobrar resultados concretos para mais uma situação de crime ambiental e social que o governo fechava os olhos. O porto parou. Os funcionários das diversas escalas de trabalhos estavam parados. Tivemos a aprovação de muitos que nos gritavam palavras de incentivo: "não deixa carregar mesmo não!!". Queriam nos dar água e qualquer apoio que precisássemos. Porém, infelizmente alguns não compreendiam o que de fato estávamos cobrando e nos olhavam torto. A segurança que não deu conta de nos conter na chegada, depois ficou só olhando em formação. A ação durou ao todo por volta de quase 8h. Estimávamos uma duração máxima de 1h ou 2h. Resistimos. Logo chegou a polícia federal. Foi embora. Depois voltou. Após veio polícia militar. Depois batalhão de choque. Polícia civil. Helicóptero da polícia civil... tinha um número enorme de policiais, comparadamente tínhamos poucos ativistas. Nós estávamos todos em posição, prontos. Na pilha de ferro, nos guindaste no porto, no cargueiro tomado... As negociações começaram, nossos advogados já estavam lá. Depois de muita conversa e repercussão o vice-governador do estado do Maranhão foi ao porto de Itaqui para articular conosco. Obtivemos uma vitória. Sucesso na ação. Uma reunião foi marcada com a sua presença, a presença do Greenpeace, os representantes das empresas exploradoras de ferro-gusa, o fato político foi instaurado. A ação teve repercussão nacional e internacional. Fez muita gente que não sabia da situação abrir os olhos e ficar atento aos crimes que acontecem pelo país e não se faz nada para punir os culpados, principalmente se foram grandes empresas e homens ricos. Após a informação do navio e através de comunicado do Paulo Adário, nos retiramos do porto, dos guindastes e do navio, ilesos, ninguém nos encostou a mão, a não ser para nos oferecer apoio e nos cumprimentar. A atitude do vice-governado do Maranhão foi sensata. Descemos todos pelo mesmo lugar por onde entramos, nos retiramos devagar, mas com um sentimento de fervor dentro de nós. Acabávamos de fazer a diferença. Pelos mesmo botes voltamos ao navio e fomos recebidos pela tripulação: "Welldone mthfkrs!!!". Abraços, palavras de alegria... Tive que me despedir do RW no domingo. Fui com orgulho. Participei da história do navio, do Greenpeace, do meu país. Lutei junto com pessoas incríveis por mais paz, mais verde, por justiça social. Estou sempre pronto para isso, pois acredito que podemos ter um mundo melhor, para todos, se nos unirmos e lutarmos juntos. Abraços.

Por Thiago Alves Marinho
Voluntário e Ativista
Greenpeace Brasília

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